Uma ácida (a)cética

(Esse é o meu primeiro texto sobre o Corona Vírus — e não é sobre ele, é sobre o meu gosto)

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É que sob coroas de papel,
Aqueles que teimam se esconder
Em falsos abrigos
local de certeza
Afastar do desconhecido
Do que não veem sentido
Caçam bufunfa pelo seu umbigo.

Eu não sei se ridícula devo me sentir
Por julgar tão ridículo o que de tão ridículo recebi,
abri, até li
e vi de novo e de novo,
como ciclo de erros passados,
convenientemente ridículos
por ridiculamente
ser ingênua, nua
teimosa, amadora
Imodesta sem cura.

Eu deixei, nesse momento,
O meu tempo
Ser instante,
Querer não ter hora.
Não preferir estar fora
Não sucumbir a
Ser como o Outro,
Para o Outro,
Sobre o Outro,
No Outro,
Sob o Outro,
Vendo o Outro
Por compartilhamento
No ensejo das jóias que não são ouro.

Dar meu próprio tempo,
Já que o tenho não tendo

E dirão muitas bocas,
do meu privilégio,
da minha culpa.

E dirão outros,
Acalme.
E dirão outros,
Faxine.
E dirão outros,
Exercite.
E dirão outros,
Trabalhe.
E dirão outros,
Aproveite,
E dirão outros
Obrigações éticas.
Só que é mentira pra subir
Mostrar-se mais
Galgar como animais
E digo eu:
Perversos hipócritas.

“Vocês devem saber sobre isso”
“Eu sei”
“Eu faço”
“Eu fiz”
“Eu falei”
“Eu previ”
“Quer ver como eu sei?”
“É porque sou demais”

De mais.
Que regurgito
Tudo sem tocar.

Nem no vão do vazio,
No mistério do invisível,
No medo da vida e da morte,
Suportam falar não mais que o silêncio.

Empanturram-se de achismos,
Compromissos descontidos,
Movimentos altamente imprecisos.

Sou a louca dos barulhos
E não quero louros
Eu quero ausência.
Abstinência.

27.03.2020

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